sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pausa para lamentação 2

Se você olhar direito vai ver que a fumaça do cigarro é azul, e não importa que todo mundo argumente que é cinza, a fumaça do meu cigarro sempre foi azul. E sempre encheu minha vida, mesmo antes de eu fumar. Porque a metáfora sempre esteve lá, quer eu quisesse ou não. E agora, olhando pra fumaça azul saindo do cigarro apoiado sobre a mesma mesa que a tela do meu computador, e para minha janela aberta, com o vento frio entrando e as luzes da maior cidade do meu país – a cidade que eu sempre idolatrei e eu sempre vou idolatrar – até parece que eu entendo minha vida e o que me trouxe aqui. Mas na verdade não. Essa resposta não está soprando no vento frio que entra pela minha janela. Vento esse que já foi personagem de tantos poemas ruins e sonhos que deixaram de ser sonhos apenas para cair no esquecimento, como o verde de uma maça madura, quem sabe podre. Eu lembro de abrir a janela do meu quarto em Goiânia, onde eu morava, e sentir o vento frio bater no meu rosto, e respirar fundo pra sentir o cheiro da noite, o sabor da noite. E eu sonhava em como estaria sendo minha noite se eu tivesse saído de casa – eu era moleque e minha mãe nem sempre deixava – cheia de surpresas e embriagues. Eu demorei um pouco ainda pra desmistificar a noite, e não sei ainda se valeu a pena. Mas é assim que as coisas são. Um dia tudo há de ser desmistificado. Até a morte. E eu realmente não sei se isso tudo vale a pena.

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