domingo, 30 de novembro de 2008

A mulher perfeita e outras histórias: prefácio

Vejam bem, para não parecer que eu sou só mais um babaca depressivo, e eu não sou, eu queria contar algumas historias nesse meio tempo entre meus desabafos e minha libertação. Até porque eu acho que vai ficar meio chato essa coisa de ódio, dor, amor, vingança e desejos reprimidos o tempo todo. Até pra mim. Agora que eu sou um novo homem eu não quero ficar fuçando tanto assim só nas merdas do passado. Então eu vou contar algumas outras historias, que não são minhas, mas que merecem ser contadas. Eu tenho alguns amigos. Não muitos, alguns. Diversos conhecidos, mas só alguns amigos. Pouquíssimos da infância, alguns poucos da adolescência, e mais alguns da faculdade. Depois disso a coisa meio que virou trabalho-casa-trabalho e o coleguismo tomou conta. Grandes colegas, sem dúvida, mas colegas. Mas o que importa é que eu tenho uns quatro amigos que eu acho que eu poderia chamar de “meus melhores amigos”, por mais infantil que essa denominação soe. O Tomás, o Pedro, Tobias e Rafael. Eles se conheceram através de apresentações minhas e daí a amizade entre eles tomou vida própria, como tinha de ser. O Tomás eu conheci ainda moleque, estudamos juntos no colégio. Continuamos amigos durante a faculdade e mesmo depois que ele ficou, colocando do jeito dele, “cansado das amarras formais que a sociedade impõe a uma vida que não pertence a ela”. Ele continua sendo um bom sujeito, mas não é o tipo de pessoa pra quem você pede conselhos sobre trabalho e coisas assim. O Pedro fez faculdade comigo e com o Chef. E, ao contrario de nós dois, ele realmente seguiu com economia. Mercado financeiro e tudo mais. Eu particularmente nunca tive saco pra isso, mas ele tem. E muito. O Tobias e o Rafael são exceções no que diz respeito a eu ser o elo de tudo. Eles se conheciam antes, até porque são irmãos, mas eu conheci os dois separadamente, antes de saber que eles eram irmãos. O Rafael é o mais velho, e eu o conheci através de uma menina que eu namorei. Ele fazia faculdade com ela. O namoro durou pouco mas, como nós tínhamos outras afinidades fora o sexo, continuamos a nos encontrar e ele ia junto em algumas das vezes. Com o tempo, a menina começou a namorar outro cara e a situação ficou meio estranha e ela se afastou de mim. O Rafael não. Nessa altura eu já tinha conhecido o Tobias. Ele tocava na banda de um conhecido meu, e eu conheci ele num dos ensaios ao qual meu amigo me convidou. Admito que nós só ficamos realmente amigos depois que eu descobri num dos shows deles que o Rafael era irmão dele. Esse meu amigo que era da banda do Tobias tinha me chamado pra ir num show deles num buraco qualquer e, como eu não tinha nada melhor pra fazer mesmo, eu fui. Não sem antes chamar minha ex-namorada e o Tomás. Chegando lá eu, naturalmente, não fiquei nada surpreso ao ver o Rafael, já que ele e minha ex viviam grudados. Na verdade foi só depois que o show acabou que eu fui informado, dessa vez realmente surpreso, que o baterista da banda punk do meu amigo era irmão do amigo da minha ex-namorada. Complexo, não? Mas no fim ficamos bastante amigos, graças ao rock, à cerveja e algumas outras coincidências. Pararei por aqui, por enquanto. Depois eu falo mais dessas historias.



PS: Isabel, ainda.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Briga I

Eu não sei do que você precisa! E se soubesse, talvez não pudesse dar. Não é como se você fosse a coisa mais imprescindível na minha vida. Embora seja confortável. E minha preguiça me impede de mudar. Ouviu? Eu só estou com você por preguiça. Preguiça de sair e tentar arranjar alguma coisa melhor, e nem to falando que ia ser difícil. Meia hora num bar sozinha e procurando de verdade e eu já ia conseguir. Seu bosta. Aliás, quer saber? Sai daqui. Eu tava precisando mesmo tomar uma atitude. Eu vou arranjar um cara melhor, alguém que me dê valor. Alguém cujo sonho de vida não seja poder viver numa porra de um apartamentozinho só escrevendo porcaria e falando que é literatura. Seu bosta, seu merdinha. Incompetente. Vagabundo. Você me envergonha. Perdedor. Eu nem sei porque eu tenho sido fiel a você esse tempo todo. Você não merece. Eu devia ter te chifrado há muito tempo. O que me consola é que você não vai conseguir ninguém. O único orgasmo que você vai ter é quando ficar brincando com seu pinto no banheiro sozinho. Ou quando pagar uma vagabunda pra te chupar. O que você tem a dizer sobre isso, hein? O que você tem a dizer sobre isso?
Eu sempre te dei valor.
O caralho que deu! Eu que dei mais valor a você do que você merecia. Só de falar com você já é dar mais valor do que você merece. Lixo.

sábado, 15 de novembro de 2008

As minhas primeiras vezes

Eu tinha algo em torno de cinco anos na época. Freqüentava uma escolinha cujo nome eu obviamente já não me recordo mais, no entanto têm três coisas que eu nunca me esqueço daquele lugar. E uma que eu costumo esquecer, extremamente inútil. Comecemos pela inútil. Logo depois do recreio, as professoras mandavam a gente fingir que dormia, eu digo fingir porque ninguém dormia realmente. No entanto, enquanto fingíamos que dormíamos e nos achávamos o supra-sumo da esperteza por não estarmos de fato dormindo, e sim, geralmente, jogando pedra-tesoura-papel ou alguma coisa do gênero, as professoras podiam ter o recreio delas. Obviamente eu não prestava atenção no que elas conversavam, mas deviam ser as suas preocupações e seus medos ou talvez fofocas e algumas piadas ruins. O que eu lembro era de um menino, cujo nome acho que eu nunca soube – na verdade não lembro nem do rosto – que realmente dormia. O molequinho apagava em cima da mesinha. Tudo bem que elas criavam todo um ambiente propicio ao sono – luzes apagadas e silêncio – mas mesmo assim ninguém mais dormia. Eu me pergunto o que aconteceu com aquela criança. Mas essa era a historinha inútil. As três coisas que eu lembro que importaram na minha vida foram as seguintes, em ordem de importância.
Eu estava no recreio da escolinha e tinha um “brinquedo” no pátio que era tipo essas barras de fazer exercício que infestam os parques hoje em dia. Eu não sei qual era o propósito de colocar uma dessas numa escolinha de jardim de infância, é claro que apesar disso, nós achamos uma utilidade para a barra. Nós nos balançávamos nela. Um pulava e se segurava na barra enquanto o outro empurrava o primeiro rapaz para frente, criando um efeito de vai e vem. Até ai, apesar de ser uma péssima idéia, sem problemas. O que aconteceu foi que um dia choveu. Choveu enquanto estávamos em sala de aula desenvolvendo nossa coordenação motora com pinturas horríveis ou brinquedos idiotas, ou ainda nosso raciocínio lógico com algum jogo estúpido. Mas, por sorte nossa, parou de chover um pouco antes da hora do recreio. Saímos, então, ávidos para correr em volta de nossos rabos e desenvolver nossos físicos, como as crianças saudáveis e estúpidas que éramos devem fazer, mas sem machucar o coleguinha e sem ser extremamente estúpido. O problema é que para uma criança, que ainda não aprendeu muito sobre como o atrito pode ser diminuído com uma camada de água, se pendurar na barra como ela faz todo dia e balançar, mesmo a barra estando molhada, não é uma idéia muito estúpida. Então, lá fomos nós. Eu não lembro se eu fui o primeiro nem nada do gênero. Eu lembro que eu fui. Lembro também de ter conferido se as “tias” estavam olhando. Acho que elas até falaram alguma coisa do tipo “menino, num faz isso senão você vai se machucar”, mas nenhuma atitude mais enérgica que isso. E, para uma criança estúpida, essa frase só tem o efeito de deixá-lo com mais vontade de fazer estupidez. Então eu subi na barra. Um amigo meu começou a me balançar. Até ai, tudo bem. Ele era pequeno e eu tava conseguindo me segurar, mas a brincadeira não estava emocionante. Foi quando um outro menino, um tanto quanto maior que o primeiro, foi ajudar a me empurrar. Quando meu balançar estava tomando proporções emocionantes, eu me soltei. Aliás, eu escorreguei. E caí em cima do meu braço, cujo osso se rompeu prontamente. Daí pra frente eu não me lembro de muita coisa. Lembro de aprender direita e esquerda pela primeira vez. Esquerda era o lado que tinha o braço engessado. Depois eu esqueci de novo, até descobrir uma pinta no meu braço esquerdo. Funcionou bem durante o tempo necessário. Hoje eu já não uso mais, mas a pinta ainda está aqui. Só um detalhe: contando essa historia de como eu aprendi direita e esquerda com a pinta para a minha mãe, eu descobri que a pinta, que para mim era uma simples marca de nascença, era um pouco mais que isso. Era uma cicatriz. Ela tinha se descuidado quando eu era bebê e eu tinha enfiado meu braço num espinho de laranjeira ou coisa assim. De qualquer maneira, essa é a historia da primeira vez que eu quebrei um osso.
A outra primeira vez que eu queria contar toma lugar nessa mesma escola, não sei se antes ou depois. Na verdade, eu considero a primeira vez porque é a memória mais antiga que eu tenho de algo parecido. É que eu tinha uma professora, uma “tia”, que gostava muito de mim. No sentido fraternal da coisa. E ela sempre me pegava no colo dela, segurava meu rosto enquanto me falava “Deixa eu ver seu olho. Seu olho é lindo. Parece uma jabuticaba de tão escuro que ele é”. Foi a primeira vez que eu me rendi ao elogio de uma mulher. A primeira vez que eu tomei um elogio como sendo algo mais do que uma simples constatação de um fato ou de uma opinião. Eu ficava me perguntando se ela queria alguma coisa comigo, apesar de não ter noção do que isso poderia ser. Eu me lembro de me sentir estranho. Não era como se minha mãe estivesse me falando que meu olho parecia uma jabuticaba, ou minha avó, que de fato me fez esse elogio acredito que mais de uma vez. Era diferente. E foi a primeira vez que foi diferente.
Minha terceira, e mais importante, primeira vez aconteceu pouco antes de um recreio. Sem ter o que fazer conosco até a hora marcada para elas nos deixarem correr em volta dos nossos próprios rabos ou quebrar nossos braços na barra, elas resolveram sondar a vida amorosa dos pequeninos seres humanos que elas acompanhavam todo dia, provavelmente para ter alguma coisa para fazer piada na nossa hora da soneca, logo após nosso recreio. Então elas começaram com uma brincadeira que era assim: Todos nós deveríamos, quando perguntados, falar quem eram nossos(as) respectivos(as) namorados(as) e elas iam contabilizando o negócio na lousa para ver quem tinha mais namorados(as). De qualquer maneira, eu tava garantido. Já fazia algum tempo que eu “namorava”, seja lá o que isso significava pra mim naquela época, uma mocinha cujo nome era Marcela. Muito bonitinha e aparentemente gostava mesmo de mim. Ou assim ela me dizia e, dado os escândalos que ela fazia pra ficar como meu par na quadrilha, eu acreditava. Então, lá estava eu, sempre um garoto do fundão o que quer fosse o fundão na época, esperando chegar a minha vez de declarar orgulhosamente “EU TENHO UMA NAMORADA, A MARCELA” quando eu ouço alguém roubar essas exatas mesmas palavras da minha boca. E não se engane, companheiro, só havia uma Marcela na sala e era a ela que o filho duma puta estava se referindo. Foi quando meu mundo caiu aos pedaços. Como assim a Marcela tinha outro? Eu não podia aceitar aquilo, deveria estar havendo algum engano. Seria todo o conceito de monogamia uma fraude? Foi quando eu reparei que, no tempo em que eu estava absorto em meus pensamentos, outro pauzinho havia surgido ao lado do nome da minha pretensa namorada. E eu só conseguia pensar “Dois? Um tudo bem, pode ser um engano, mas dois? DOIS?”. Então, o golpe final foi dado. O terceiro pauzinho. Eu estava desesperado, descrente, com o meu coraçãozinho infantil partido em pedaços. Enfim, chega a vez da falsa se pronunciar e ela declara, em alto e bom som, que o namorado dela era o Vitor (sou eu, acredito que tenha esquecido de mencionar). Descarada. Agora ela queria fazer tudo ficar bem, não é? Mas as coisas não funcionavam assim comigo. Quando chegou a minha vez, apesar dos dolorosos (pra mim, naturalmente) sorrisinhos que ela ficava me mandando eu respondi à infeliz da professora que havia tido a idéia de tão cruel questionário: Eu não tenho namorada, e vi o sorrisinho se desfazer da boca de minha, naquele momento, ex-namorada. Pouco depois, o sino do recreio tocou e fomos liberados. Eu não sei porque eu demorei pra sair, ou pra levantar. Sei que quando eu levantei e olhei pra porta da sala, que tinha suas luzes apagadas, eu vi o vulto da Marcela esperando. A luz entrando e deixando ela ligeiramente assustadora, imponente, santificada. Eu andei ate a porta e ela me parou. Perguntou : “Porque você disse que não tinha namorada” e eu, cheio de razão, respondi que tinha sido porque três meninos tinham falado que eram namorados dela. Ao que ela responde “mas eles não são”. O que pra época até fazia sentido, afinal, você podia até nunca ter falado com a menina, mas isso não significava que você não podia falar que era sua namorada. Naturalmente. E, com isso em mente eu fiz o que talvez eu nunca deveria ter feito. Ela me perguntou: “Então, a gente tá namorando, ou não?” e eu respondi um tímido e arrependido “tamo”. Essa foi a primeira, e garanto que não a ultima, vez que eu me rendi a uma mulher.






PS: ainda dentro de Isabel.

sábado, 8 de novembro de 2008

Madame Satã e o nada

Uma vez, na minha época de faculdade, me levaram no Madame Satã. O Madame é um bar escuro com uma pista de dança mais escura. E ele é muito mais do que simplesmente isso, mas pra mim, ele foi só isso mesmo. Eu tinha conhecido um sujeito com quem eu comecei a discutir e, nessa discussão, o tema “nada” surgiu. E ele me falou o seguinte: “É impossível imaginar o nada, porque a partir do momento em que você tenta imaginar o nada, ele deixa de ser nada para ser alguma coisa que você está tentando imaginar. E discutir o nada é inútil, porque tema de discussão já é alguma coisa, logo, se torna impossível até mesmo discutir o nada. Por definição”. Então, quando eu digo “nada” eu estou tentando me aproximar o máximo da definição de nada e das restrições por ele impostas. Nada é, no máximo, completamente nada.



PS: o madame satã já não existe mais. E isso é de Isabel ainda.

sábado, 1 de novembro de 2008

Teatro. Mais um da isabel.

Eu abri a porta de casa. Entrei, meio cambaleando de álcool e sono, direto na sala e desabei sobre o sofá. Acendi um cigarro e puxei o cinzeiro mais próximo para mais perto ainda. O suficiente para eu não precisar mover o tronco para bater a cinza. E fiquei fumando um cigarro com a luz apagada. Mas as luzes da cidade entravam pela porta de vidro da minúscula sacada e iluminavam o ambiente.
Eu não ouvi os passos. Só reparei que ele estava lá quando o vi. A jaqueta surrada, a calça jeans rasgada, a camiseta de banda e o coturno vestindo o ser de barba e cabelos abundantes e uma garrafa de cerveja, daquelas de 600, na mão. Ele tava encostado na parede, olhando pra mim. Acendeu um cigarro que estava na boca com um isqueiro bic que iluminou seu rosto por uns 3 segundos. Era eu. Bem, pelo menos era muito parecido, só que com a barba e os cabelos com o dobro do tamanho dos meus.
- Quantas mulheres você pegou na balada de fresco que você foi hoje?
- Por que eu acho que você já sabe a resposta dessa pergunta?
- Nenhuma, não é? Sabe o porquê? Porque você não tem culhão. Se você tivesse pegado aquela morena de bunda boa, que tava com aquela blusinha verde cheia de frufru, de jeito, você ia ta comendo ela agora. E eu não ia ter que ficar dando sermão pra marmanjo às 4 da manhã.
Por um lado eu concordava com ele. Eu tinha ficado olhando para essa morena durante um tempo. Pensei mais de uma vez em ir falar com ela. Tinha um sorriso lindo e dançava de um jeito que me deixava louco. E ela olhou pra mim algumas vezes, soltou aquele sorriso maravilhoso pro meu lado.
- Era bem mais gostosa que a aquela vagabundinha que você namora. Um homem num pode se rebaixar do jeito que você faz não. Porra, é só ela fazer biquinho que você fica todo caidinho. Ela te prendeu pela boceta.
Foi quando eu vi um outro cara, também com um cigarro na mão, mas bem vestido, de terno. No entanto, a camisa estava meio aberta e a barba meio que por fazer. Eu o vi assim que ele soltou um “Calma ai”.
- Pelo menos ele tem estabilidade com ela – continuou o novo integrante da discussão, apontando pro cara barbudo com a mão trêmula com que segurava o cigarro – Imagina se o puto tivesse que ficar se preocupando em arranjar mulher todo fim de semana, é só mais estresse. Ele num tem tempo pra essas brincadeirinhas de criança não, porra. Ele tem que colocar dinheiro na conta pra poder comer e beber as porcarias que o babaca ali gosta.
Falou essa frase final apontando pra outra pessoa que estava sentada numa cadeira, cuja presença eu ainda não havia notado. Esse tinha cara de ser pseudo intelectual. Estava meio perdido na discussão, com cara de quem estava pensando em outra coisa. Sem deixar cair a máscara de desinteressado na discussão argumentou de volta:
- Eu ? Não. Eu vivo muito bem com pouca coisa. Algum lugar pra escrever, comida suficiente para não morrer de fome e cigarro em abundância. É só isso que eu peço. É só isso que eu sempre pedi. Foi você, companheiro, que sempre se preocupou com dinheiro.
- Alguém tem que se preocupar com dinheiro, porra. Não se vive de poesia. Esse apartamento, o whisky e tudo o mais só ta aqui por minha causa. Minha causa!
E entre gritos de “cala a boca, seu yuppie nojento”, “seu punk de merda” e “pseudo intelectual do caralho”, eu vi Isabel. Ela surgiu e todos ficaram quietos. E eu queria falar alguma coisa, mas a simples “presença” dela me impedia de abrir a boca. E eu olhei para baixo e me vi totalmente acorrentado. O metaleiro colocou um olhar de revolta resignada na cara, e o pseudo intelectual tirou a mascara de desinteresse e mostrou sua face de desprezo respeitoso. O yuppie engoliu o ego e se sentou. Eu não lembro exatamente do resto. Dormi no sofá mesmo. Acordei no dia seguinte com o sol na cara e dor de cabeça. Foi essa a noite que eu percebi minha situação. Foi esse evento que me fez ver as correntes que me prendiam. Eu passei o dia me lembrando dos meus sonhos de criança. De ouvir Iron Maiden e Metallica. E de depois começar a escrever e me interessar por literatura. E do dia que eu passei no vestibular de economia, pensando que se eu não conseguisse salvar o mundo, pelo menos eu não ia morrer de fome. E da minha mãe feliz e de eu gradualmente desistindo de salvar o mundo. Existe alguma coisa que valha a pena ser salva? Naquele dia não existia. Nada. Completamente nada.

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...