terça-feira, 21 de abril de 2009

Patricia

Restavam apenas cinco pessoas na festa. Horas atrás, havia sido um evento que muitos descreveriam como memorável. Agora, era apenas um punhado de copos vazios e mais alguns com um resto da bebida, agora escassa, que suavizara as preocupações dos convidados daquela noite.
Os cinco se sentaram em volta de uma única mesa. Olharam-se sem saber o que dizer. Não eram íntimos entre si. Conheciam a anfitriã, mas haviam apenas se esbarrado nos lugares comuns que frequentavam. Somente se encontravam na mesma mesa uma vez por ano, e por poucos minutos.
A anfitriã era uma mulher com um gosto impecável. Culta e reservada, descrevia a si mesmo como uma mulher de vícios saudáveis. De fato, seu maior vício é a saúde em si. Não a dela, mas a de seus amantes. Pelo menos aparentemente saudáveis. Músculos bem trabalhados, mas não exagerados. Pele ainda firme nos ossos. No mínimo 20 anos mais novos que ela. Afinal, era sua filosofia que a velhice era uma doença. Uma doença que deveria ser evitada a qualquer custo. Então, a cada ano que passava, mais ela precisava sentir-se nova. Mais ela precisava fugir de tudo que parecesse um sinal de envelhecimento. Posses, marido, filhos. Até cargos elevados em companhias. Vivia uma vida de constante extravagância, procurando sempre evitar as preocupações com a vida. Começava negócios inovadores, somente para vende-los quando eles começavam a dar certo. Felizmente, sua reputação de mulher de negócios genial não pode sofreu com sua ânsia, e o dinheiro vinha fácil e suas empreitadas a rendiam cada vez mais a cada venda que ela fazia.
Naquela noite, dos quatro que restavam, fora ela, três viviam de maneira bastante parecida com o estilo de vida da anfitriã. Eram amigos antigos, mas o tempo não havia envelhecido a amizade como a um bom vinho, ou um whisky em uma barril de carvalho. O tempo havia jogado eles em direções opostas e, não fosse o esforço da anfitriã, eles nunca mais se veriam. Anualmente, ela fazia uma festa de aniversário melhor que a do ano anterior. Gostava de comemorar sua vitória sobre o tempo. E chamava todos os seus conhecidos. A cada ano a festa era maior, e a todo ano sobravam sempre os mesmos quatro na mesa final. Esse ano específico, um novo sobrevivente se juntava a mesa. Era jovem e nossa anfitriã havia se apaixonado pelo mistério atrás de seus olhos.
Então, deixem-me apresentar meu novo amigo. Meus queridos, esse é o Rodrigo. Rodrigo, esta é a Marta, aquele é o Zacarias, e por fim, o Ulisses.
Todos na mesa fizeram acenos de cabeça. Xavier terminou seu copo de whisky e se levantou.
Mais um ano, mais uma vez deixo vocês a sua sorte. Até ano que vem. Patrícia, sempre um prazer.
E Zacarias pouco depois seguiu o exemplo de Ulisses. Ignorante ao fato de que o seu maior motivo para abandonar a festa estava exatamente em sua frente. Marta, por fim, levantou-se. Despediu-se de Rodrigo, e pediu para Patricia acompanha-la até a porta. No caminho, quando se sentiu segura dos ouvidos de Rodrigo, aconselhou a amiga a tomar cuidado. Não desaprovava a atitude dela em relação aos seus acompanhantes, mas queria ter certeza de que ela não se envolveria emocionalmente.
Tarde demais, amiga. Eu já amo ele. E eu sei que ele vai me magoar, mas eu vou aproveitar tudo que ele puder me oferecer até lá. Chorar quando ele for embora. E depois achar outro. Mas não me fale para não amar, porque amar é tudo que eu tenho.
Apesar de Marta ter achado todo o discurso sentimental demais, faltava a vontade de discutir naquele horário. Ela que fizesse o que preferisse. Patricia voltou até a mesa, puxou Rodrigo pela mão e o levou até o quarto. Era hora de mergulhar na sua fonte de juventude.

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...