domingo, 25 de janeiro de 2009

Marta

- Sabe, eu não sou tão mulherengo quanto você acha.
- Claro, meu bem, eu sei disso. Eu e as mulheres que eu sei que você pega toda vez que sai. Tá me achando com cara de palhaça?
- Não, e você também não me entendeu. O que eu quis dizer é que eu faço isso porque eu to solteiro. Se eu estivesse em um relacionamento sério eu ficaria só com uma.
- Ô docinho, eu só não tenho um relacionamento sério com você porque eu não acredito nisso. O que nos deixa num círculo vicioso, não?
- É só você confiar em mim um pouco e a gente sai disso.
- Não, fofo, é só você parar com essas promessas que você não pode cumprir que a gente não precisa discutir mais isso.
Ela se levanta da cama redonda e coloca a calcinha enquanto ele olha pra ela com olhar mais inocente que ele consegue colocar na cara. Inútil. Ela o ignora e, mesmo se estivesse prestando atenção, não acredita em inocência.
- Você não me leva a sério
- Não, docinho, não levo.
- Por quê?
Cala a boca, Fábio. Eu não quero discutir com você, caralho. Tenho que ir.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Layla

-Quer saber? faz o que você quiser.
-Não, não é isso.
-Achei que fosse.
-Eu não sei na verdade. Eu não sei de verdade o que eu quero.
-Ai você complica um pouco as coisas. E eu já to de saco cheio. Não quero mais ouvir isso.
-Quer saber a verdade? É só você que eu quero. Faz muito tempo que é só você que eu quero. Mas isso é exatamente o tipo de coisa que não se fala. E eu já tomei demais na cabeça por causa da minha pressa. Da minha necessidade absurda de definição. Da minha posição ridícula de... Foda-se
-O que você quer dizer com isso?
-Tudo que eu queria dizer com uma palavra que eu não quero nunca mais usar na minha vida, moça.
-Eu cheguei atrasada demais pra ter sinceridade?
-Não. Mas talvez você tenha chegado cedo demais para o resto da minha vida.
-Quanto é cedo demais?
-É exatamente isso que eu queria descobrir. E é exatamente por isso que o “talvez” foi usado. Eu não quero me preocupar com isso. Não mais. Não agora. Mas eu quero você. Por todo o tempo que eu quiser você. Tudo que eu quero ouvir é um “foda-se” sincero.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Karen

Ela andou pela sala com um pedaço de papel que estava na carteira dele. Ele não se importava que ela mexesse na carteira dele porque, afinal de contas, ela só fazia isso pra organizar mesmo. Coisa que ele não faria nunca se dependesse dele.

Zacarias.
Oi.
Todos esses nomes? O que é?
São só nomes, Karen.
Você não tá escolhendo nome pra bebê?
Não.
Tá escrevendo um livro?
Hein?
Qual o problema?
Eu também não vou plantar uma árvore.
Não entendi.
Relaxa.
Só nome de homem...
Sim.
Por que ?
Porque ele ainda não aprendeu a mentir tão bem.
Ele quem?
Ele.
É um caso?
Engraçado essa ser sua terceira idéia, considerando que eu sou detetive.
Alguem te pagou pra achar essa pessoa?
Não, esse eu to fazendo por um amigo meu.
Quem?
Oswaldo. Ele me pediu por causa de um amigo dele.
E você tá quieto por causa disso.
É.
E isso na minha frente é um pedido pra fazer você esquecer disso.
Pode ser. Não foi proposital, no entanto.
Nunca é. É só uma reação que você tem.
Você diz como se fosse frequente.
É frequente.
Mesmo?
Mais do que você pensa. Eu sei o que fazer quando se trata de você.


Ele riu com o canto da boca. O mesmo sorriso bobo que ele só dá quando está com ela. Ela colocou as pernas em volta dele e depois o braço. Fez isso pelas costas, pra que ele pudesse se acostumar com a presença física dela. Encostou a cabeça nas costas dele e ficou até sentir a respiração dele se aprofundar. Disso pra frente era fácil. Ele era fácil pra ela. E ela gostava disso. E pra ela, as pessoas tem que fazer apenas as coisas que elas gostam. Todo o resto é desperdício de vida. E pouca gente desperdiçou tão pouco a vida quanto ela.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Joana

A luz piscava acelerada e corria pela parede e pelo teto, filtrada em cores e no ritmo da música alta que tocava. Entre os momentos de escuridão, eu vi ela dançando. Nada nunca havia se movido daquela maneira. Meu coração começou a bater tão rápido quanto a caixa do punk que tocava. Ramones.
Depois de anos sem fazer isso era chegada a hora. Era como se eu fosse um adolescente que sai de noite pela primeira vez. Oi, tudo certo? Desculpe a intromissão, eu só queria perguntar seu nome. Afinal, eu nunca vi ninguém dançar assim tão bem. É Joana. Muito prazer, Joana. Eu sorri. Ela parecia uma mulher diferente de perto. Ainda bonita, mas sem todo o charme que a movimentação dava pra ela. O meu é Oswaldo, muito prazer. Eu saí dali pouco depois. Estava me sentindo muito desconfortável. Falta de prática é uma merda. Fui buscar uma bebida e me preparar pra tentar de novo. Pensei na Alice pela primeira vez aquela noite. Acendi um cigarro e me encostei na parede do lugar. Tinha ido com um amigo, que agora estava conversando com uma mulher no canto, e eu não achei que era a hora de interromper ele. Percorri o lugar com meus olhos e encontrei olhos que mereciam ser olhados. Mas que como de costume não estavam voltados pra mim. Auto estima baixa desde o fim do namoro. Abaixei meus olhos e tentei fazer com que o pensamento saísse da minha cabeça. Quando eu levantei meus olhos novamente, os olhos dela estavam voltados para mim. Bastante perto, inclusive. Mé dá um cigarro? Claro, e me desculpe, mas qual o seu nome. Ela pegou o cigarro da minha mão e falou: Joana. Conversamos por dois minutos, eu ainda pensando na coincidência do nome repetido. O lugar era pequeno, não deveriam ter mais do que 200 pessoas lá. 100 Mulheres, considerando uma proporção meio a meio. E Joana não é um nome comum. Eu havia conhecido apenas uma em toda minha vida. E agora, duas numa noite. Foi então que ela me disse que apesar de ter adorado conversar comigo, ela tinha vindo pegar um cigarro pra ir embora fumando. Eu me despedi e fiquei feliz com a conversa. Meu amigo acabava de ser deixado sozinho pela amiga com a qual ele conversava antes. Não era feia, mas também não chamava a atenção. Comentei com o Emílio sobre a amiga e ele apontou outra mulher. Aquela ali vale a pena. Eu fui lá. Qual seu nome? Joana. Eu não acreditava. Achei que era um sinal. Conversei com ela. O resto da noite inteira. Ela me deu o e-mail. Eu fui embora acreditando que as coisas dariam certo. Sem pressa. Até porque haviam especificidades que não merecem ser comentadas que impediam qualquer outra atitude. Uma música na minha cabeça, que ela havia comentado que era a favorita dela do Smiths. Bigmouth Strikes Again. A única coisa que eu posso dizer é que naquele dia eu de fato descobri como Joana D'arc se sentiu quando foi traída, como diz a música citada. Me despedi de Emílio e nunca mais encontrei nenhuma Joana.

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...