sábado, 13 de dezembro de 2008

De onde veio a expressão “piegas”?

Eu conheci a Isabel logo depois que eu, relutantemente, terminei a faculdade. Nunca trabalhei com economia, graças ao Rafael e ao fato de que, sendo ciência, a faculdade de economia não requer estagio para a graduação. O Rafael é formado em publicidade e propaganda e trabalhava numa agência de propagandas pequena, do pai dele. Depois que eu me formei eu fiquei meio sem rumo e o Rafa me chamou pra fazer um bico na agência. Eu não queria trabalhar com economia mesmo, então eu aceitei. No fundo ele só ofereceu por amizade, ele nem precisava de nada de mim e eu acabei ficando como um faz tudo com um belo diploma de economista de uma bela instituição de ensino. Nessa eu acabei acompanhando o Rafael na apresentação de uma campanha pra empresa na qual a Isabel trabalha. Foi a primeira vez que eu a vi. Numa sala de reunião, com um terninho e maquiagem séria no rosto. Imponente. Conforme a produção da campanha foi indo, com pequenas modificações aqui e ali, eu acabei conversando mais com ela. Pegando telefone e essas coisas, teoricamente pra agilizar essas coisinhas que faltavam. Olhando pra trás, agora, eu percebo como a coisa foi burocrática no começo. Na época parecia tão mais romântico. Todo o jogo parecia mais interessante, com as insinuações no ar e os telefonemas e se mostrar mais e menos interessado e todo esse tipo de coisa que acontece no começo. Tudo parecia mais interessante quando a gente conversava sobre isso na cama, antes de dormir. No fim das contas, a gente acabou saindo uma noite e nos beijamos na pista de dança de um lugar que tocava música eletrônica e qualquer outra coisa que estivesse na moda aquele mês. Eu lembro que eu estava falando no ouvido dela e nossas bochechas começaram a se acariciar meio que sozinhas. Como se fosse pra acontecer. E ela me abraçou e eu parei de falar. E a coisa ficou assim pelo que pareceu uma eternidade pra mim. Ela me abraçando e nossas bochechas se tocando e eventualmente eu abraçando ela. E enfim o beijo. Natural e espantoso. Eu não lembro a musica que estava tocando porque eu não estava ouvindo nada. Meio aquela coisa clássica do tempo parar e só existir os dois naquele momento e tudo mais. Piegas. Eu sei. E daí?
Eu consegui, eventualmente, um emprego decente na agência. Redator. Ganho pouco e trabalho pra cacete. Mas pelo menos não preciso mais buscar café pra ninguém. Não é grande coisa, mas é melhor que ficar o dia inteiro preocupado com o preço de alguma commoditie ou ficar movendo curvas de oferta e demanda imaginárias, ou ainda passar minha vida virando um mestre nas movimentações das curvas IS-LM. Eu sei, para os economistas que me lêem, que as coisas não são só assim. Mas elas são assim também. E eu gosto de imaginar que elas são só assim. Fica parecendo que eu joguei cinco anos da minha vida fora, mas não que eu joguei cinco anos e mais um monte de dinheiro que eu podia ter ganhado a mais. Fica parecendo que eu troquei esses cinco anos (que poderiam ter sido quatro, admito) e essa grana por felicidade. Aí fica sendo uma troca justa. E eu fico achando que, pelo menos, eu to trabalhando com uma “versão beta” do que eu queria realmente fazer. Mas a verdade é que eu não conseguiria passar fome por um tempo pra ser escritor. Não tenho culhão. Talvez um dia, com algum empurrãozinho. Quem sabe?

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