terça-feira, 28 de setembro de 2010

A sorte nunca é pura

Algumas pessoas passam anos estudando para ganhar dinheiro. Outras esperam por alguma oportunidade que elas nem sabem direito o que é. Sentam e torcem para serem atropeladas pela sorte. Eu estaria em alguma categoria do meio disso. O cinza perfeito.

Estudei por alguns anos. Muito mais do que a média da população brasileira. Mas faço a vida com a sorte. Não chego a ser uma aberração. Não acho milhares de reais na rua todo dia. Nunca achei um bilhete premiado da Megasena. Nem ganhei nas vezes em que joguei. Pelo menos não o prêmio cheio. Já ganhei uma quina, que é uma grana boa, mas nunca esses prêmios acumulados gigantescos que fazem as pessoas fantasiarem com o ócio. Eu nunca ganho dinheiro suficiente para não precisar mais ganhar dinheiro. Mas nunca tive um trabalho formal. Daqueles que você acorda cedo e faz amizades durante o happy hour na sexta. A maior parte dos meus colegas são pessoas compulsivas, que frequentam as casas de jogos nas quais eu vou. Assim como eu, não se divertem mais. Algumas vezes fazemos piada das pessoas que aparecem, riem, ganham, ou perdem, e nunca mais voltam.Outras vezes, sinto que meus colegas têm inveja.

Eu falei que minha sorte não era sobrenatural, mas às vezes parece, até para mim. Teve uma vez que eu saí de casa para comprar meus picoles. Eu gosto muito de picoles. Compro uma caixa por semana. Normalmente vem algum premiado, na maioria das vezes com os prêmios mínimos da promoção do momento. Nesse dia, o chicabon que eu sempre compro tinha acabado. Ai eu pensei “Tá vendo, e depois as pessoas me acusam de ser sortudo.” Comprei uma caixa de Magnun, para variar um pouco, sabe? Absolutamente todos os picoles vieram premiados. Todos. Além de ganhar uma caixa quase inteira de novo, ganhei pelo menos um de cada prêmio da promoção. O prêmio máximo era um carro, que demorou muito tempo para ser entregue porque os caras da agência de promoção fizeram uma investigação para saber porque aquilo tinha acontecido. Acharam que eu tinha trapaceado. Não os culpo, eu também acharia. No dia que o carro novo chegou, meu carro antigo, que eu ainda não tentara vender porque estava esperando a situação com a agência se resolver, foi roubado. Nunca mais acharam o carro. Dois dias depois, a montadora do meu carro antigo fez um recall. Para comemorar a sorte, joguei na megasena os números das placas dos carros. 8456 e 2319. Joguei 8, 4, 56, 23 e 19. Como falto um número, chutei o 40. Foi o único número que eu errei.

Dinheiro não é a única coisa com a qual eu dou sorte. Nunca fui multado, mulheres bonitas discam meu número por engano, consigo chutar uma prova inteira e não errar uma questão. Tudo isso sem nem um mísero talismã. Agora, o que vocês imaginam que um cara com essa sorte toda faz com ela? Eu mesmo não faço nada. Eu só pego o que a vida generosamente me dá, como um nômade. Algumas pessoas plantam árvores para poder colher maçãs, eu sou atingido por elas no meio do deserto.

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...