sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Capítulo XIII

Eu sinto que eu me perdi nos meus relatos. E, pior, eu sinto que cada vez mais eles não fazem sentido. Eu sinto falta da Isabel, eu realmente sinto. E já faz um ano e meio que a gente terminou. Eu comecei a escrever isso aqui a mais ou menos uns oito meses. Eu esperei até eu me sentir seguro, até eu ter certeza de que tudo estava acabado, mas agora eu já não sei mais. Eu encontrei ela semana retrasada, num bar. Fazia tempo que eu não a via. Foi forte. Foi foda. Ela tava com a Flávia e mais umas duas amigas que eu nunca conheci direito. Ela sorriu quando me viu. Ela veio me cumprimentar. E foi ela quem me beijou. Sim, sim amigos. E desde então eu não escrevo mais. Eu não sei se tudo isso faz sentido. Eu tenho evitado ligar para ela, mas admito que acabei ligando um dia, só pra conversar. Eu já não entendo qual era o problema, eu já não vejo motivo nenhum para ficar longe dela. E eu reli tudo que foi escrito até agora e eu não acho nenhum motivo concreto tirando uma mísera briga. Meu Deus, será que eu agi mal? Será que foi só um surto momentâneo, que me pareceu como sendo todo um padrão dentro do meu relacionamento. Será que eu falhei em segurar a onda por uma fase passageira. Eu acho que eu só consegui ficar tão longe por tanto tempo graças a crença de que eu estava certo, mas não seria só meu orgulho falando mais alto que a verdade. Eu já não sei mais. Eu não sei, eu não sei. No bar eu estava com o Chef e ele meio que me tirou de lá um tempo depois. O Tobias estava junto também. Mas e se ele não tivesse feito isso? Eu poderia ter ido pra casa com ela, a gente poderia ter transado e tudo poderia ter ficado bem, eu poderia... não sei, ter tido certeza de que eu estava errado. Eu vou ligar pra ela.


PS: Último capítulo de Isabel. Sim, acaba assim mesmo.

domingo, 21 de dezembro de 2008

A mulher perfeita e outras histórias: parte 1

Sábado, aproximadamente seis da tarde. A Isabel tava visitando a mãe, outra que sempre me odiou, e eu estava com o fim de semana livre para ver alguns filmes que eu tava adiando, ler algumas coisas e bater punheta. E esses eram meus planos, feitos com carinho e displicência, como todo bom plano de final de semana. Meus planos são então modificados com um telefonema do Tobias, insistindo que precisava encontrar todo mundo em algum bar, e que tinha pensado no Finnegans, mas que se eu tivesse alguma sugestão melhor a gente poderia repensar. Eu não tinha, então foi lá mesmo. Não que o Finnegans tenha nada de especial, eu só tava com preguiça de pensar.
Eu fui o último a chegar e o Tomás já estava bêbado, nada de especial. Assim que eu cheguei o Tobias começou: “Ótimo, já que estão todos aqui, eu posso fazer o meu anúncio. Eu tenho pensado muito sobre a minha vida e percebi que eu não tenho nenhum objetivo claro que realmente vá me fazer feliz e que não seja ligado a dinheiro. Portanto, eu comecei a pensar nas minhas prioridades e decidi que eu preciso encontrar minha alma gêmea. De agora em diante, todos os meus esforços estarão voltados em encontrar a MULHER PERFEITA”. Nesse momento, eu, o Rafael e o Tomás nos olhamos com o mesmo olhar de estranheza enquanto o Tobias esperava algum comentário com uma cara de satisfação e o Pedro ria como se não houvesse amanhã. Logo o olhar do Tobias se refez para um olhar de estranheza, mas com um motivo diferente do nosso. Ele simplesmente não entendia nem a risada do Pedro, nem a nossa cara. O Tomás então tomou a dianteira. “Bixo, eu admito que eu to bêbado e que meu raciocínio pode estar meio prejudicado e tudo mais, mas essa deve ser das idéias mais estúpidas que eu já ouvi na minha vida. Tipo, sua alma gêmea, beleza, a gente vive pra amar e todo mundo tem uma alma gêmea no mundo, apesar das materialidades nos impedirem de ver isso às vezes, mas esse negócio de mulher perfeita é história pra boi dormir, bixo. Que porra é essa? Todo mundo é perfeito do jeito que é ou todo mundo tem algum defeito, escolhe a sua teoria, mas te garanto que uma das duas ta certa. E não que seja ruim ter encontrado vocês, muito pelo contrario, amo vocês, mas porra Tobias, era essa a urgência? Achei que você ia assumir que era gay, ou que você tava mudando pra Botsuana ou qualquer porra assim”. “Então vocês não acreditam que a mulher perfeita existe?” Ao que o Pedro, parando de rir, respondeu: “ Não, porra nem o Tómas acredita e ele é o que mais sonha daqui. Pra não falar que esse negócio de mulher perfeita, mesmo se existisse, seria relativo, o que a mulher perfeita pra mim pode não ser pra você. O Vitor gosta de morena e eu de loira, e pronto, já fodeu todo o conceito.” “Eu sei que é relativo, inclusive eu já comecei a fazer uma lista de tudo que ela precisa ter”. “Bixo, é uma mulher, não um carro”. O Rafael, que até então tinha mantido a cabeça baixa e a boca fechada, interrompeu o Pedro e falou “Se é isso que você quer mesmo, eu te ajudo”. “Pronto, dois loucos, e você Vitor, compactua com essa putaria?” “Eu namoro com a Isabel, num tenho moral pra falar nada”.

sábado, 13 de dezembro de 2008

De onde veio a expressão “piegas”?

Eu conheci a Isabel logo depois que eu, relutantemente, terminei a faculdade. Nunca trabalhei com economia, graças ao Rafael e ao fato de que, sendo ciência, a faculdade de economia não requer estagio para a graduação. O Rafael é formado em publicidade e propaganda e trabalhava numa agência de propagandas pequena, do pai dele. Depois que eu me formei eu fiquei meio sem rumo e o Rafa me chamou pra fazer um bico na agência. Eu não queria trabalhar com economia mesmo, então eu aceitei. No fundo ele só ofereceu por amizade, ele nem precisava de nada de mim e eu acabei ficando como um faz tudo com um belo diploma de economista de uma bela instituição de ensino. Nessa eu acabei acompanhando o Rafael na apresentação de uma campanha pra empresa na qual a Isabel trabalha. Foi a primeira vez que eu a vi. Numa sala de reunião, com um terninho e maquiagem séria no rosto. Imponente. Conforme a produção da campanha foi indo, com pequenas modificações aqui e ali, eu acabei conversando mais com ela. Pegando telefone e essas coisas, teoricamente pra agilizar essas coisinhas que faltavam. Olhando pra trás, agora, eu percebo como a coisa foi burocrática no começo. Na época parecia tão mais romântico. Todo o jogo parecia mais interessante, com as insinuações no ar e os telefonemas e se mostrar mais e menos interessado e todo esse tipo de coisa que acontece no começo. Tudo parecia mais interessante quando a gente conversava sobre isso na cama, antes de dormir. No fim das contas, a gente acabou saindo uma noite e nos beijamos na pista de dança de um lugar que tocava música eletrônica e qualquer outra coisa que estivesse na moda aquele mês. Eu lembro que eu estava falando no ouvido dela e nossas bochechas começaram a se acariciar meio que sozinhas. Como se fosse pra acontecer. E ela me abraçou e eu parei de falar. E a coisa ficou assim pelo que pareceu uma eternidade pra mim. Ela me abraçando e nossas bochechas se tocando e eventualmente eu abraçando ela. E enfim o beijo. Natural e espantoso. Eu não lembro a musica que estava tocando porque eu não estava ouvindo nada. Meio aquela coisa clássica do tempo parar e só existir os dois naquele momento e tudo mais. Piegas. Eu sei. E daí?
Eu consegui, eventualmente, um emprego decente na agência. Redator. Ganho pouco e trabalho pra cacete. Mas pelo menos não preciso mais buscar café pra ninguém. Não é grande coisa, mas é melhor que ficar o dia inteiro preocupado com o preço de alguma commoditie ou ficar movendo curvas de oferta e demanda imaginárias, ou ainda passar minha vida virando um mestre nas movimentações das curvas IS-LM. Eu sei, para os economistas que me lêem, que as coisas não são só assim. Mas elas são assim também. E eu gosto de imaginar que elas são só assim. Fica parecendo que eu joguei cinco anos da minha vida fora, mas não que eu joguei cinco anos e mais um monte de dinheiro que eu podia ter ganhado a mais. Fica parecendo que eu troquei esses cinco anos (que poderiam ter sido quatro, admito) e essa grana por felicidade. Aí fica sendo uma troca justa. E eu fico achando que, pelo menos, eu to trabalhando com uma “versão beta” do que eu queria realmente fazer. Mas a verdade é que eu não conseguiria passar fome por um tempo pra ser escritor. Não tenho culhão. Talvez um dia, com algum empurrãozinho. Quem sabe?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pausa para lamentação 2

Se você olhar direito vai ver que a fumaça do cigarro é azul, e não importa que todo mundo argumente que é cinza, a fumaça do meu cigarro sempre foi azul. E sempre encheu minha vida, mesmo antes de eu fumar. Porque a metáfora sempre esteve lá, quer eu quisesse ou não. E agora, olhando pra fumaça azul saindo do cigarro apoiado sobre a mesma mesa que a tela do meu computador, e para minha janela aberta, com o vento frio entrando e as luzes da maior cidade do meu país – a cidade que eu sempre idolatrei e eu sempre vou idolatrar – até parece que eu entendo minha vida e o que me trouxe aqui. Mas na verdade não. Essa resposta não está soprando no vento frio que entra pela minha janela. Vento esse que já foi personagem de tantos poemas ruins e sonhos que deixaram de ser sonhos apenas para cair no esquecimento, como o verde de uma maça madura, quem sabe podre. Eu lembro de abrir a janela do meu quarto em Goiânia, onde eu morava, e sentir o vento frio bater no meu rosto, e respirar fundo pra sentir o cheiro da noite, o sabor da noite. E eu sonhava em como estaria sendo minha noite se eu tivesse saído de casa – eu era moleque e minha mãe nem sempre deixava – cheia de surpresas e embriagues. Eu demorei um pouco ainda pra desmistificar a noite, e não sei ainda se valeu a pena. Mas é assim que as coisas são. Um dia tudo há de ser desmistificado. Até a morte. E eu realmente não sei se isso tudo vale a pena.

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...