sexta-feira, 28 de março de 2014

Parede

Subiu a rua cambaleando. Era comum. Os últimos trocados compraram a última cerveja. Valia a caminhada de volta para casa. Claro, não valia de verdade, mas na hora a decisão era fácil. A caminhada ainda era só uma ideia. Mas a cerveja passava, e a caminhada chegava. Era comum. Subir aquela rua cambaleando.

Ela tinha entrado no bar com o nariz empinado. O nariz apontava para onde os olhos queriam estar. Longe dele. O paradoxo é que eles, os olhos, entraram lá sabendo que encontrariam os dele. Eventualmente.

-Você falou que não queria me machucar.
-Verdade
-Verdade só que falou. Mentira que não queria machucar.
-Errei. Acontece. Mas você ainda duvidou.
-Errei. Mas acontece, né?

O nariz saiu baixo. Não sabia o que queria quando entrou. Não queria mais ele, ele pensava. Ele não sabia o que dizer, o quer fazer. Ficou parado e se deixou ficar sozinho. A última cerveja. A última companhia.

Subiu a rua cambaleando. Era comum. Atravessou a rua e desceu a escada que levava da rua superior ao viaduto. O caminho seguia por ali. Por baixo.

No fim da escada, uma parede. Nova. Digo, a parede não estava lá antes. Mas tinha aparência de ter estado lá há muito tempo. Desgastada pelos anos, era como se ela tivesse se mudado para o caminho dele. Liberado o caminho de outro e resolvido fechar o dele.


Sem certeza de como prosseguir, sem entender a simplicidade de voltar, ele se sentou e encarou a parede que se ergueu no seu caminho. Ali ela estava e ali era ficaria. Imóveis. Ele e a parede. Frente a frente. Até um deles desistir.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Meio Assim

Você me deixa meio bobo.
Do tipo de bobo que fala coisas que ele claramente não devia.
Que fica criando teorias da conspiração com tudo que você fala.
Pior, daquele tipo que regressa para a infância e quando contrariado só responde “mas eu QUERO!”

Toda minha tão adorada racionalidade vai pro espaço.
Meu único contato é receber um eventual cartão postal da Lua.
Wish you were here.
Goodbye.

E eu continuo procurando isso.
Essa bobeira que seu sorriso me traz.
Mas em outros dentes.

Porque os seus dentes se enconderam de mim atrás de lábios sérios.
Expressões preocupadas.
Sobrancelhas concentradas nas minhas desculpas.

Minhas desculpas por ter ficado bobo demais.
Falado demais.
Ter visto verdades demais atrás das suas palavras.
Ter tido vontade demais.


Porque eu quero ficar bobo demais e você só me quer meio bobo.

domingo, 2 de março de 2014

Certeza


Eu só não quero sentir como se eu nunca mais fosse ver você toda vez que você passa pela porta.

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...