quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Elogios


O que fazer com um elogio? Alguns só trazem um sorriso ao rosto, alguns nem isso. Alguns dão medo quando não são o que se espera. “Como assim eu tenho talento para humanas? Meu negócio é exatas, passei a vida inteira com essa certeza.” Outros – adoraria fingir que raros – deixam a gente sorrindo mais que uma guerra de cocégas. São desses elogios que hoje eu tenho medo. Tanto de receber quanto de fazer. Elogios que soam como comprometimentos. Mas a gente nunca sabe quais deles vão ser assim. Porque às vezes um mero elogio a um sorriso pode ser interpretado como algo tão maior. E, imagina, machucar alguém é a última coisa que eu quero. Mesmo eu me dispondo tanto a ser machucado por esses mesmos simples elogios a um sorriso. Mas, deus permita, nunca ninguém vai ficar sabendo. Sentimentos são fraquezas. Sentimentos assustam mais que elogios. Qualquer menção de sentimento já vale por um “seus olhos, mesmo sem eu saber que eram seus, já estiveram em vários dos meus poemas de amor.” É melhor não. É melhor você ficar aí, longe mesmo de mim. Dessa vez, pelo menos, eu não quero me trancar com você aqui.

E se você pensa que isso é só a modernidade, coisa dessa nova geração aí, minha interpretação do último verso do poema das sete faces do Drummond talvez mude sua opinião. Não precisa procurar o poema no google, não. É assim: Eu não devia te dizer/ mas essa lua/ mas esse conhaque/ botam a gente comovido como o diabo.

“Olha aí” diz você “Tá aí um homem que não tem medo de falar do que sente. Tá comovido. É a lua. É o conhaque. Mas tá aí o homem comovido.” Para você eu pergunto: o que diabos comovido significa? Mais importante é o que vem antes “Eu não devia te dizer”. Porque ele acaba não dizendo. Desiste. Se afasta. Mas agora que ele já disse que não devia dizer, agora que ele já falou da lua, ele precisa falar alguma coisa. Então, timidamente, joga a culpa no conhaque e se põe comovido. Com a noite. Não com Ela. A Drummond, como a mim, faltam bolas.

Pior, sobra medo de que te faltem também.

Nenhum comentário:

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...