domingo, 23 de maio de 2010

Walter

Walter olhou para o relógio esperando uma resposta que ele naturalmente não conseguiu. Não era na máquina que ele procurava essa resposta, e era apenas isso que o círculo na parede era. Os ponteiros que desciam não o levavam a lugar nenhum. A criança continuava sentada no canto da sala, brincando com um carrinho de metal. Como quatro anos poderiam ter se passado tão rápido? Na verdade, quase cinco.
O menino tinha batido na porta duas horas antes. Estava assustado e carregava um papel. Enquanto ele lia, pensava no quão cliché aquilo era. “Rodrigo, você é um homem difícil de achar. Principalmente porque esse nem é seu nome, né? Você podia ter me falado isso. Eu queria que seu filho tivesse o nome do pai. Mas acho que Rodrigo é tão bom quanto qualquer outro nome. Eu estou cansada e doente. Não posso mais cuidar dele. Eu torço para que você viva mais tempo que eu. Sabrina.” Depois disso ele falou para o menino sentar. Desde então, anda pela casa e olha para o relógio.
Pegou o computador e viu o saldo de sua conta e de suas aplicações. Depois, fez todas as contas para saber quanto o menino iria custar e quanto ele teria de renda sem nunca mais trabalhar. Pela segunda vez direcionou a voz para o menino. “Vem, eu tenho que me livrar de algumas coisas e você não pode ficar sozinho.” O menino levantou, obediente e assustado, e seguiu seu pai até a casa vizinha. “Beatriz, você pode cuidar do meu filho por uma hora?” “Desde quando você tem filho?” “Eu já volto. Você pode cuidar do meu filho?” “Estamos misteriosos?” “Sem gracinhas, e sem perguntas para o menino. Explico depois. Pode?” “Claro. Claro.”
O menino achou a casa feia. E por achar tão feia, seu olhar não parava. A mulher entendeu aquilo como interesse e passou a explicar o significado de tudo. A ligação que todos nós temos com a mãe terra e coisas que pareciam histórias infantis.
Seu pai voltou, mas eles ainda ficaram algum tempo na vizinha. Ele vendo TV, e o pai conversando na cozinha com a mulher. Depois, eles voltaram para casa e o pai perguntou se a mãe dele tinha dito como ele se chamava. O menino respondeu que sim. Então, o pai segurou seu rosto carinhosamente e disse para ele nunca mais chama-lo de Rodrigo. Rodrigo era só o menino. O pai era Walter. A partir de agora, para sempre Walter.

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