quinta-feira, 14 de maio de 2009

Rodrigo

Ele acordou. Abriu os olhos, mas não se levantou. Os braços abertos ocupando toda a cama de casal. Acordar sozinho tem suas vantagens e suas desvantagens. Riu pensando nisso. Levantou-se da cama, colocou a calça jeans mais próxima, uma camiseta, um tênis e colocou a pistola na cintura, por baixo da camiseta. Olhou para o relógio e viu que ainda tinha duas horas até a hora de se encontrar com o alvo. Naquele mês seu nome era Rodrigo. No mês passado tinha sido Paulo. Estava pensando no nome do próximo mês logo antes de ir dormir. Sonhou com Matheus. E assim que se lembrou disso, pouco antes de sair de casa, se decidiu. Mês que vem é Matheus. Antigamente ele usava apelidos, assim não sentia que estava mentindo quando perguntavam o nome. O problema é que sempre tinha um babaca que perguntava “Mas qual seu nome mesmo?”. Porra, foda-se o nome, o que importa é você ter como me chamar. Mas ficava suspeito ele não responder, então ele começou a usar nomes mesmo. Aí se ele resolvia usar um apelido no meio do trabalho, ele pelo menos não vacilava quando perguntavam o nome de “verdade”. Desceu de escada, já que estava no segundo andar. Saiu pela portaria e deu um aceno de cabeça pro recepcionista. Duas horas. O que fazer com essas duas horas? Na primeira vez ele vomitou por duas horas. O problema não é fazer, é pensar no que vai fazer. Depois que está feito, só adrenalina. Na verdade foi o que manteve ele no negócio. A primeira vez foi meio que uma dívida. O cara era um dono de boca que ele tava devendo, da época que ele era junkie, e ao invés de matá-lo pela dívida, o cara preferiu pedir pra ele matar um outro cara. Ele tinha uns 22 na época. Fez o serviço tão bem que o cara da boca começou a pagar ele por alguns outros serviços. Até que o cagão começou a ficar com medo de ele querer tomar a boca. Mandou matarem ele. Ele se safou. Tomou a boca e entregou de mão beijada pra outro cara. E pronto. Ele tinha acabado de conseguir toda a reputação que precisava. O resto é contato. Agora lá está ele parado na rua augusta, sua residência do mês, pensando no que vai fazer com as duas preciosas horas que tem. E um puteiro soou como uma boa opção. O único problema é que putas não gostam que você leve armas pro quarto delas. Sem contar os babacas da entrada, que ficam revistando. Deixou a arma no quarto e foi procurar alguma puta boa pra uma metida rápida.

Chega ai amigo, quer meter hoje? Tem 30 meninas lá dentro, chega ai. 10 reais e eu te dou uma cerveja e uma capirinha. Qual cerveja? Skol. Ta certo. Mas não precisa mentir que eu sei que não tem 30 meninas lá dentro. Têm sim, é que tem algumas que tão no quarto, ai vai parecer que tem um pouco menos.
Mentira.
Ele entra sabendo que não vai tomar a caipirinha, porque caipirinha de puteiro é horrível. Aqui na Augusta pelo menos. Pega a cerveja com o barman com cara de poucos amigos.
Conheci um barman de puteiro uma vez que namorava uma das meninas. Ele falava que entendia e tudo mais, que ele tinha conhecido ela assim, que ele não tinha grana também e não podia fazer nada. Tinha que aceitar. Ficava com cara de bosta toda noite, o que pra mim só prova que ele, na verdade, se importava. Aí eu paguei pra comer a namorada dele uma vez, só pra ver se eu tava certo. É, eu tava. Ele veio irado pra cima de mim falando que eu era amigo dele, que eu não tinha direito de fazer isso. Ao que eu respondi: “Mas eu paguei !”. Depois disso ele nunca mais falou comigo. Mas eu também não me esforcei. Isso foi pouco antes de eu vir pra São Paulo, eu só vi ele mais umas duas vezes antes de mudar pra cá.
Senta-se num dos sofás do lugar e olha em volta pra ver se acha alguma coisa. Ele acha. Loira tingida, mas com uma bunda e uma barriga fenomenais. Coxas tão grossas que pareciam que podiam matar ele. Meio feia de rosto e bastante sem peito. Mas pra um relacionamento de meia hora tava ótimo.
Quanto é o programa? Cem reais mais o quarto. Nem fudendo, muito caro. Pago cinqüenta mais o quarto. Setenta, gatinho, nem um centavo a menos. Fechado.
Ele foi até o balcão com ela pra pagar pro “caixa”. Ela ficou passando a mão no pau dele por fora da calça. Ele olhou pra ela com um olhar meio indefinido. Algo entre “você não quer parar?” e “até que está gostoso”. Levou ela pro quarto. Tirou a pouca roupa dela antes de perguntar o nome. Sabrina. Ela tinha pegado uma camisinha com o cara que marcava o tempo dos quartos no corredor atrás da boate. Colocou pra ele, logo depois de ele ter tirado a roupa e deitado na cama. Ela subiu em cima dele e começou a cavalgar, gemendo da maneira menos falsa que conseguia. Ela não era muito boa nessa parte. Ele girou, a colocou por baixo e deu um beijo na boca dela. Bem, já que eu estou aqui eu posso muito bem fazer isso direito. Pelo menos ela não vai ficar gemendo desse jeito falso no meu ouvido. Ele se esforçou, de fato, mas não são bem assim que as coisas funcionam. Ele não foi o pior da noite, na verdade foi o melhor. Os outros foram dois moleques de 18 anos que gozaram rápido demais e um outro cara, de uns 40 anos, casado. Péssimo. Mas mesmo assim ele não a fez realmente sentir prazer. E saiu sabendo disso.
Certo. Agora eu tenho uma hora e 15 minutos pra chegar aonde eu preciso, pegar a vagabundinha, levar ela pra um lugar deserto, e dar um tiro na nuca dela enquanto ela estiver abaixada cheirando a cocaína, a junkiezinha. Sem problema.
Ele não sabia por que ia matar ela. Só mostraram quem ela era. Ele a seguiu por um tempo. Muitos seguranças. Sempre. Muitas câmeras. Sempre. Ele só viu um jeito de conseguir ficar com ela sozinha. Se ela mesmo fugisse dos seguranças. Ficou com ela uma noite, depois outra. Descobriu que ela gostava de cocaína. Ai foi só falar que ele tinha pros dois, pra eles cheirarem antes de ir pra balada. Ela nunca viu ele cheirando, exatamente porque ele parou, desde que ele começou a matar ele não precisa mais disso, mas ele falou que era porque ele não gostava de cheirar no meio da festa. A desculpa caiu como uma luva pro que ele queria. O nome dela era Vivian. Ele não sabe nem porque ela tem tantos seguranças. Nem se deu ao trabalho de perguntar. Tinham arranjado um carro pra ele. Placa fria e tudo mais. Tava tudo certo. Ele já sabia até aonde ia levá-la.
Parou na esquina em que eles iam se encontrar. Ela chegou e entrou no carro. Vamos? Ela beijou a boca dele antes de perguntar. Aqueles lábios grossos e maravilhosos. Quase dá pena. Tem certeza que nenhum dos brutamontes te seguiu? Tenho, relaxa, você acha que eu ia dar essa bandeira? Se eles virem eles vão falar pra minha mãe. Ele ia ficar puto. Ta certo, vamos então. Ele dirige por uns dez minutos, prestando atenção pra ver se eles não estão sendo seguidos. Nada. Ótimo. Ele abre a janela e acende um cigarro. E começa a se dirigir para o lugar que ele tinha pensado. Ela nem repara a mudança de rumo. Está animada demais falando sobre alguma coisa que ele não está ouvindo e cantando as músicas que estão tocando. Ele ri e concorda com qualquer coisa de vez em quando. Eles chegam. O lugar é completamente isolado. Alguns quilômetros da rodovia. Pra evitar qualquer desconfiança, ele falou que eles estavam indo para um rave particular no sitio de um amigo dele. Ele tira os pacotes do bolso e entrega pra ela. Vamos lá pra fora, cheira no capô. Ela continua rindo e falando alguma coisa. Parece que ela fala até quando respira. Ela se abaixa. Ele tira a arma das costas. Ela vai pra segunda carreira. Ele pensa melhor e guarda a pistola. Ela olha para ele e ri. Ele ri de volta. Você num vai? Vou, só deixa eu pegar um negócio aqui. Abre a porta luvas e tira uma faca. Enquanto ela abaixa pela terceira vez. Ele faz isso rápido o suficiente pra conseguir enfiar a faca no meio da cabeça dela enquanto ela ainda estava abaixada. Ele limpa o cabo da faca. Limpa as impressões digitais que ele pode ter deixado no carro enquanto ela acaba de agonizar no chão. Ele vai queimar tudo, mas nunca é demais ser cuidadoso. Joga ela dentro do porta mala, logo depois de tirar o galão de gasolina. Ele ensopa ela e o carro inteiro. Mas principalmente ela. Acende um fósforo e joga de longe. Ele vai a pé até a estrada de asfalto e espera a carona. O cara chega. Ele entra no carro. E tira o tênis 3 números maior que ele estava usando. Nunca é demais ser cuidadoso. Eles levaram o tênis que ele pediu. Ele fala pra eles se livarem daquele tênis, só por precaução, mas que estava tudo bem. Eles riem, agradecem. Pagam, todos pagam. E largam ele no hotel. Ele olha a fachada do hotel, olha pro lado. Pensa em ir procurar a Sabrina. Mas desiste. Já era muito tarde.

Nenhum comentário:

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...