terça-feira, 16 de setembro de 2008

Fábio

-Alô?
-Fábio?
-Eu mesmo, querida. Tudo certo?
-Mesmo restaurante.
-Tá certo, te encontro lá meu amor.
-Vê se não se atrasa. Você parece uma noiva pra se arrumar.
-Tudo bem. Beijos meu amor.
-Tchau.
Já faziam dois meses que os dois, o Fábio e a Marta, se encontravam. Sempre no mesmo restaurante. Sempre no mesmo motel. Algum tempo depois eles passarão a cortar o restaurante. A Marta começará a ficar preocupada com a imagem dela. O restaurante era pequeno. Não mais que oito mesas. O chef gostava de comentar com a Marta que ela era a única mulher que ia lá. Normalmente só homens e algumas bonecas infláveis ambulantes. Comentava também, quando o Fábio demorava, que ele era a única boneca inflável que vinha com um pacote extra. O Chef era também dono do lugar e gostava da Marta o suficiente para fechar o restaurante só pra ela quando ela ia acompanhada. Claro que tudo tinha um preço, geralmente a garrafa de vinho mais cara era pedida, e raramente bebida até o final. Sempre era deixada para trás, o que proporcionava um vinho extra para o Chef beber antes do lugar fechar. O que por sua vez acontecia cedo o suficiente para que ele saísse quase toda noite.
Fábio ignorou a placa de fermeé, entrou no restaurante e viu Marta bebendo um copo de vinho acompanhada do Chef. Eles riam, e ele pensou que ele estava sentindo a coisa mais perto de ciúmes que ele jamais sentira pelo que ele considerava um emprego. Parou ao lado da mesa e recebeu o olhar de desprezo usual do Chef enquanto ele se levantava e ia para a cozinha.
-Ele realmente não gosta de você.
-E você insiste em vir aqui.
-Eu gosto da comida dele, e não poderia me importar menos com o que acham de você.
-Claro, meu amor.
“Ela gosta de mandar. Fica quieto” foi o que ele pensou enquanto pronunciava suas palavras de submissão. Eles jantaram. Beberam. Foram embora para o motel e transaram. Antes das duas da manhã ela já estava em casa. E ele esperava a filha dela descer.
-Demorou hoje.
-Eu tive que trocar o pneu. Deve ter furado no caminho pra casa do trabalho, ai depois eu tive voltar e tomar outro banho. E eu demorei muito pra trocar o pneu, você sabe que eu não sou muito bom nessas coisas, né?
-Essas coisas de homem? Sei.
“Ela gosta de ofender. Fica quieto” foi o que ele pensou enquanto entrava no carro. Alguns meses depois ele irá pela primeira vez tomar uma atitude na vida. Isso resultara em um assassinato nunca ser resolvido, sendo que ele, que seria o principal suspeito, estará morto com um tiro na nuca a queima roupa a menos de um metro do outro corpo. Too little, too late.

Nenhum comentário:

Da leveza do amor tranquilo

Ela me disse: eu quero a leveza de um amor tranquilo. Amor fácil, meu bem, é para quem tem dificuldade de amar. Para quem encontra no outr...