Eu aceito um fora seu.
Daqui a vinte anos.
Se quiser, pode chamar de divórcio.
Eu aceito um fora seu quando, depois dele, eu me sinta
confortável em saber que eu tentei tudo que eu podia tentar.
Agora deixa essa calcinha no chão e deita aqui do meu lado.
Aqui no meu peito.
Deixa eu sentir suas pernas nas minhas.
Deixa eu fingir que amanhã eu não vou ter outra preocupação.
Deixa eu fingir que você é tudo em que eu vou precisar
pensar.
Nada dessas coisas feias de trabalho, trânsito, contas e
desculpas.
Deixa eu fingir que eu nunca mais vou precisar ler um linha
enquanto eu tiver você do meu lado que não seja de uma poesia que eu tenha
vontade de ler para você.
Me ajuda a finalmente entender a beleza das coisas do
Neruda.
Deixa eu fingir que eu não vou mais pensar em escuridão,
escrever mortes e que toda a piada que eu fizer vai ser para fazer você rir e
não para vender um desodorante.
Deixa eu fingir que é isso que você quer também, nem que
seja só até o sol nascer e você ter que ir embora.
Eu sei que é me enganar.
Eu sei que seu fora não vai demorar nem 24 horas, como toda
vez.
Eu sei que na segunda, além de não ter você, eu vou estar
preocupado com meus prazos e com contas.
E você vai estar preocupada com as suas coisas também.
E que o mundo vai continuar girando e esmagando sonhos no
caminho.
Meus, seus e de todos que vivem nele.
Mas agora, só agora, tudo que eu quero é fingir como eu
finjo na minha cabeça as histórias que eu escrevo.
Depois, quando você colocar a calcinha, a saia, a blusa e
pegar seu carro para ir para longe de mim, pensa nisso e lembra de voltar.
Para me deixar fingir tudo isso de novo. Pelo menos na minha
cabeça.
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