Ela se deitou no meu sofá e dormiu. Não me deu tempo nem para guardar minhas chaves e mijar. Os pés sujos do chão da noite envoltos nas sandálias de tira de couro ou algo assim, que ela teve o cuidado de não jogar em cima do sofá. Poucas mulheres conseguem beber mais que eu e não cair, e ela não era exceção. E eu não digo isso me gabando de maneira nenhuma. São fatos. Eu venho de uma família de bêbados, não há nada que se possa fazer.
Eu me sentei em uma cadeira na sala, coloquei meus pés em cima do braço do sofá, perto dos dela, que por reflexo natural do sono já estavam manchando todo o estofado. Acendi o último cigarro da noite e olhei para ela. Beatriz. O nome dela era Beatriz. O tipo de mulher que simplesmente não existem perto de mim por mais do que os minutos que eventualmente se perde na fila do banco e alguma delas se posta atrás de você. Saia pseudo hippie e cabelo com dreadlocks. Essa em especial ainda acreditava que o “sonho” não havia morrido. Tinha saído da casa dos pais e ido vender bijouterias feitas de sementes na rua com o cara que ela acreditava ser o homem dos seus sonhos. O cara, como todo homem, não era tudo isso e acabou largando ela quando encheu o saco. Ela continuou vivendo com outros amigos hippies enquanto a depressão não bateu forte o suficiente. Quando bateu ela foi procurar mamãe e pedir desculpas. Colocou as coisas de volta em um eixo qualquer e agora seguia com a vida. Encontrei com ela em um bar, ela era amiga da namorada de um amigo meu que estava indo pra África trabalhar com crianças abandonadas e resolveu dar uma festa de despedida. Não me perguntem como eu conheço um cara que realmente cogita e vai pra África trabalhar com crianças, porque eu mesmo me pergunto isso às vezes. Mas de qualquer maneira, lá ela estava, sentada do lado da única cadeira vazia do lugar quando eu cheguei. Bebemos exaustivamente e quando o bar estava pra fechar ela me pediu pra levar ela para casa. No carro:
- Você mora aonde?
- Como assim?
- Você me pediu pra te levar pra casa, lembra?
- Sim, pra sua. Briguei com meus pais hoje e não queria voltar pra minha casa. Vai, eu te faço um omelete de manhã.
- Meus ovos acabaram.
- Eu te bolo o melhor haxixe da sua vida.
- Não to na pegada.
- Eu vou embora antes que você acorde.
- Não precisa. Relaxa.
Então aqui estamos. Comigo ainda me perguntando como essa mulher veio parar no meu sofá. E como diabos o pé dela ficou tão sujo.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
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2 comentários:
- Eu te bolo o melhor haxixe da sua vida.
Então aqui estamos. Comigo ainda me perguntando como essa mulher veio parar no meu sofá. E descubro como diabos o pé dela ficou tão sujo"
esse seria meu final.
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