- Ai, eu queria a sorte de um amor tranquilo.
Ela disse isso olhando para o alto. Como se
pedindo para alguém além dela. Na mesa, a garrafa de cerveja soltava uma leve
névoa e molhava a madeira. A música era do final dos anos 60. A luz, baixa. O
bar estava meio vazio, com só mais 3 mesas ocupadas.
Na minha cabeça, eu pensava: eu quero bem
mais que isso. Eu quero a angústia de um amor mais forte que eu. Eu quero
perder o emprego, perder o chão. Eu quero encarar o asfalto da beirada do
vigésimo sexto andar. Eu quero dar vexame bêbado no bar. Eu quero dormir de
exaustão depois de rolar na cama desesperado por ela estar vazia. Eu quero que
meus amigos façam uma intervenção. Eu quero me mudar com ela. Eu quero passar
dias com um sorriso bobo na cara enquanto parece que tudo se desmorona em volta
de mim. Porque entre uma citação batida e a insensatez, eu prefiro estar
errado. Entre a maturidade e a dor, eu prefiro ser um Peter Pan solitário.
Entre a sua sobriedade e a minha bobeira, eu prefiro estar para sempre enganado.
Mas eu não falei nada disso. Só ri sem graça
e fui para o próximo assunto vazio que fosse me deixar um pouco mais perto de
ser o seu amor tranquilo daquela noite e a decepção tranquila na manhã
seguinte.
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