O silêncio da rua é quebrado repetidamente por carros
solitários. O cigarro queima abandonado no cinzeiro. Tranquilo enquanto faz aquilo
que foi feito para fazer. Eu o interrompo e atrapalho com as minhas tragadas.
Já faz muito tempo que não escrevo sobre cigarros e noites solitárias. Não que
eles tenham sumido da minha vida, mas aquilo que eles representam, sim. Mesmo
quando essa solidão da madrugada voltou, eu me recusei a escrever novamente
sobre esses meus antigos e constantes companheiros. Como se negá-los, pelo
menos na minha escrita, fosse fazer o sentimento desaparecer. Mas no fundo, eu
gosto disso. Besteira negar. Besteira fugir. Gosto de contar histórias sobre
pequenos momentos de solidão. De viver na minha cabeça a vontade que eu tenho
de sair andando pelas ruas e de controlar tudo que vai acontecer. Acho que
outras pessoas, no meu lugar, simplesmente sairiam. De carro, pelo menos, se
forem dessas pessoas que se preocupam muito com a violência da cidade grande.
Eu nunca tenho muito comigo para ser roubado. E isso fica claro de longe. Ajuda
que sou homem, alto, largo e barbudo. Pareço um alvo menos fácil. Pareço
certamente mais selvagem do que sou.
O cigarro acabou, mas os carros continuam passando em
intervalos quase regulares. Talvez eles sejam uma metáfora mais correta para a
solidão. Mesmo uma solidão como a minha, quase fabricada. Quase idealizada. Do
mesmo jeito que eu faço com as minhas paixões e a maior parte dos meus medos e
ansiedades. Ser racional e factual com emoções me parece errado. Por exemplo, não
existe motivo para timidez. Mas eu sou tímido. Digo que não existe motivo
porque a rejeição de uma pessoa que você mal conhece não deveria importar. Mas
me importa. O ser racional mais irracional do planeta. Não falo só de mim, falo
de todos nós, nos obrigando a justificar sentimentos a partir de corroborações
de textos de auto-ajuda e ficção. Nos forçamos a acreditar em histórias com as
quais nos identificamos para que possamos sonhar com o final daquela história
para nós. Sonhar com aquele amor, aquela felicidade, aquela segurança. Aquilo
que talvez exista fora de nós e que parece ser o parafuso que andava faltando.
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