Tem mulher na minha vida que gerou um livro inteiro, mulher
que gerou vários contos, mulher que gerou poema, música postada no facebook e
tem mulher que não virou nem um tweet.
E não é o tempo. Algumas ficaram não mais que uma hora na
minha vida e sumiram deixando uma produção significativa escorrendo pelos meus
dedos. Enquanto outras passaram meses e saíram sem deixar nem um vazio para
trás.
Também não chega a ser a intimidade. Digo, dessas forçadas
que existem por causa de sexo. Alguns beijos me tiraram o chão e alguns sexos
não me inspiraram a sair da cama nem para abrir a porta.
A beleza talvez tenha uma correlação maior. É fácil pensar
que as mais bonitas foram as que mais mexeram comigo. Mas talvez tenham mexido
comigo exatamente porque beleza é subjetivo. Deixa eu explicar melhor, eu achei
elas mais bonitas porque elas mexeram comigo. Se for analisar a opinião dos
outros - uma média do mundo, pessoas com outras opiniões, uma tentativa de
chegar a uma análise de beleza imparcial - talvez essa correlação fosse mais
fraca. Talvez nem existisse. Eu tenho, afinal, um gosto peculiar. Por assim
dizer.
Não queria jogar a resposta para um suposto charme ou uma
química sem equação que a defina. Nada mais preguiçoso que apelar para coisas
que não podem ser explicadas. Não. Tem que existir alguma coisa a mais.
Contexto é uma desculpa que faz sentido, mas falha em entregar uma solução.
Joga toda a responsabilidade para fora de mim. Pode influenciar, como tenho
certeza que já influenciou, mas não leva a nada. É como inspiração. Uma hora,
quando você começa a criar profissionalmente, você tem que admitir que ela pode
até ajudar, mas nunca definir.
Então o que? Personalidade? Alguma coisa no jeito de falar.
Alguma coisa na escolha de palavras e nas ideias. A maneira de expresssar os
pensamentos. Ninguém é terrivelmente original às 2h da manhã com música alta
tocando e gente esbarrando em você. A não ser que você só seja original às 2h
da manhã com música alta tocando e gente esbarrando em você. Mas aí é tipo uma
mutação e eu acho que nunca conheci ninguém assim.
Mas aí, quais são os traços? O que eu consigo identificar de
longe que me dê o impulso de escolher, entre tantas pessoas, aquela cuja
personalidade vai derreter o cubo de gelo da minha fonte literária? E, mais
importante, por que? Mas, bem, uma coisa de cada vez. Não dá para pensar nisso
o dia inteiro.
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