O que fazer com um elogio? Alguns só trazem um sorriso ao
rosto, alguns nem isso. Alguns dão medo quando não são o que se espera. “Como
assim eu tenho talento para humanas? Meu negócio é exatas, passei a vida
inteira com essa certeza.” Outros – adoraria fingir que raros – deixam a gente
sorrindo mais que uma guerra de cocégas. São desses elogios que hoje eu tenho
medo. Tanto de receber quanto de fazer. Elogios que soam como comprometimentos.
Mas a gente nunca sabe quais deles vão ser assim. Porque às vezes um mero
elogio a um sorriso pode ser interpretado como algo tão maior. E, imagina,
machucar alguém é a última coisa que eu quero. Mesmo eu me dispondo tanto a ser
machucado por esses mesmos simples elogios a um sorriso. Mas, deus permita,
nunca ninguém vai ficar sabendo. Sentimentos são fraquezas. Sentimentos
assustam mais que elogios. Qualquer menção de sentimento já vale por um “seus
olhos, mesmo sem eu saber que eram seus, já estiveram em vários dos meus poemas
de amor.” É melhor não. É melhor você ficar aí, longe mesmo de mim. Dessa vez,
pelo menos, eu não quero me trancar com você aqui.
E se você pensa que isso é só a modernidade, coisa dessa
nova geração aí, minha interpretação do último verso do poema das sete faces do
Drummond talvez mude sua opinião. Não precisa procurar o poema no google, não.
É assim: Eu não devia te dizer/ mas essa lua/ mas esse conhaque/ botam a gente
comovido como o diabo.
“Olha aí” diz você “Tá aí um homem que não tem medo de falar
do que sente. Tá comovido. É a lua. É o conhaque. Mas tá aí o homem comovido.”
Para você eu pergunto: o que diabos comovido significa? Mais importante é o que
vem antes “Eu não devia te dizer”. Porque ele acaba não dizendo. Desiste. Se
afasta. Mas agora que ele já disse que não devia dizer, agora que ele já falou
da lua, ele precisa falar alguma coisa. Então, timidamente, joga a culpa no
conhaque e se põe comovido. Com a noite. Não com Ela. A Drummond, como a mim,
faltam bolas.
Pior, sobra medo de que te faltem também.
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